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      Agronegócio

      Agronegócio: moratória da soja e a implicações para os setor

      • 15 set, 2025
      • Tempo de leitura: 13 mins
      • Última atualização: 16 set às 18:47
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      Equipe CBRDoc

      Nos últimos dias, o Brasil viveu uma nova viragem jurídica e regulatória com a Moratória da Soja e implicações diretas para produtores, empresas de trading, instituições financeiras, cadeias de suprimento, setor exportador e de crédito rural.

      A decisão judicial que restaurou a moratória, após sua suspensão cautelar pelo CADE define desafios para quem atua com análise de crédito, agronegócio, financiamento rural, comércio exterior e demais setores.

      Mudanças da Moratória da Soja

      Antes de olhar para frente, é importante recapitular:

      • A Moratória da Soja é um acordo voluntário de longa data (desde 2006) no qual empresas compradoras se comprometem a não adquirir soja oriunda de desmatamento na Amazônia após julho de 2008.
      • Em agosto de 2025, o CADE suspendeu cautelarmente esse acordo sob argumento de possível violação à lei de defesa da concorrência, alegando que o pacto poderia configurar um arranjo restritivo para tradings e compradoras de soja.
      • Posteriormente, uma decisão judicial restaurou a vigência da moratória atendendo pedido da Abiove.

      Ou seja: há uma restauração legal, mas também permanece a tensão regulatória, possibilidade de novas contestações ou revisões. (Você já mencionou isso). Para entender o que muda, é importante mapear os cenários:

      Quem são os impactados

      1. Produtores de soja, especialmente na Amazônia Legal, mas também nos estados com fronteira agrícola: quem produz soja em áreas que poderiam estar em litígio, ou cuja produção já foi recusada por compradores que seguiam a moratória já estava sujeita a sanções de mercado ou contratos.
      2. Trading e empresas compradoras: estas empresas precisam checar origem da soja, garantir que os fornecedores cumpram os critérios de rastreabilidade e regularidade ambiental. A suspensão do acordo pela CADE implicava em mudanças de obrigações conjuntas de auditoria ou compartilhamento de dados. Restabelecida, isso volta a gerar obrigações maiores ou ao menos expectativas por parte de compradores externos.
      3. Instituições financeiras e crédito rural: bancos públicos, privados, fundos de investimento que financiam o agronegócio procuram minimizar risco reputacional, risco de inadimplência ligado a embargos ou perdas de mercado, riscos ambientais que afetem valor da garantia ou viabilidade de crédito.
      4. Exportadores e comércio exterior: clientes internacionais têm exigido cada vez mais garantias ESG, sustentabilidade, rastreabilidade. O risco de barreiras comerciais por desmatamento ou por não cumprimento de normas ambientais aumenta se a moratória for vista como instável ou frágil.
      5. Regulação, governo e órgãos ambientais: CADE, Ministério do Meio Ambiente, IBAMA, reguladores estaduais. Também atores internacionais que usam normas e exigências externas.

      O que muda para quem atua no setor?

      Para quem trabalha com crédito, análise de risco, agronegócio, logística, exportação, seguem os principais efeitos práticos que já começam a se desenhar e deverão se intensificar no final do 3º trimestre:

      1. Risco de crédito e garantias

      • Avaliação de risco aumentado: Produtores que operam em áreas consideradas potenciais de desmatamento ou produtores que ainda não demonstraram rastreabilidade confiável poderão ver piora nos termos de crédito ou exigência de garantias maiores. Instituições financeiras tenderão a incorporar cenários negativos relativos a embargo ou perda de mercados.
      • Garantias ambientais: será mais comum que bancos peçam comprovação documental, georreferenciamento, relatórios satelitais, certificações ou adesão a protocolos que garantam que a produção (ou operação) não infringe critérios da moratória.
      • Seguro agrícola e crédito agrícola: apólices, financiamentos subsidiados ou governamentais podem vir com condicionantes ambientais reforçadas. Se houver descumprimento, possibilidade de recusa de cobertura ou restrição de acesso a linhas especiais.

      2. Custos de conformidade e operacionais

      • Investimentos em rastreabilidade: coleta de dados, sistemas de monitoramento, auditorias externas. Esses custos recaem sobre produtores (especialmente médios e pequenos) ou sobre tradings que repassam custos.
      • Certificações privadas: para assegurar acesso a mercados que valorizam “soja livre de desmatamento”, empresas exportadoras/trading tendem a reforçar certificações ou criar protocolos internos mais rigorosos, inclusive reforçando cláusulas em contratos de compra (oftake).

      3. Logística, comercialização e contratos

      • Negociações mais rigorosas com compradores internacionais: cláusulas de auditoria, penalidades por soja com origem duvidosa, exigência de due diligence ambiental.
      • Possíveis atrasos em embarques caso haja necessidade de comprovação adicional ou certificação que ainda não esteja pronta. Isto pode gerar risco de não cumprimento de contratos de exportação ou de prazos.

      4. Reputação e seguro de mercado

      • Risco reputacional: empresas que sejam acusadas de adquirir ou comercializar soja de origem desmatada poderão sofrer pressão de ONGs, consumidores, investidores e compradores externos, o que pode se traduzir em perdas de contrato ou exigência de arranjos compensatórios.
      • Impacto em políticas públicas e incentivos: linhas de crédito especiais, subsídios ou benefícios fiscais (municipais, estaduais) poderão incluir cláusulas socioambientais mais fortes.

      5. Preços agrícolas e oferta

      • Embora a moratória não afete fisicamente a capacidade produtiva de áreas já abertas e legalizadas, há possibilidade de aumento de custos de produção. Esses custos conformidade, certificação, logística poderão se refletir nos preços pagos ao produtor ou nos preços de venda internacional.
      • Por outro lado, projeta‑se que a safra de soja 2025/26 poderá atingir recordes (alguns estimam ~ 180 milhões de toneladas) se clima e manejo forem favoráveis.
      • Isso ajuda a aliviar cenários de escassez, mas não elimina os riscos de preços maiores para soja “premium” (com certificações ou garantias ambientais).

      Cenários possíveis para fechamento de 2025

      A seguir, três cenários plausíveis para os próximos meses, pensando no impacto sobre crédito, risco, mercado e agronegócio:

      CenárioCliente ou empresa de tradingProdutor (médio/pequeno)Instituição de crédito / bancosExportador / importador externo
      Otimista (consolidação jurídica + estabilidade regulatória e mercado claro)Pode retomar práticas de compra com critérios firmes, usando a moratória como selo de confiabilidade; retorno de confiança nos mercados externos.Tem acesso a crédito com requisitos claros; quem investir em conformidade consegue diferencial de mercado; menor incerteza.Risco mais contido, menores provisões; maior clareza no uso de garantias socioambientais.Cumpre exigências ESG, reputação protegida; contratos internacionais favorecem soja com rastreabilidade.
      Intermediário (instabilidade judicial / divergências regionais / pressão política)Maior custo de compliance; contratos mais cautelosos; necessidade de segregar fornecedores; risco de disputas legais.Produtores em fronteiras agrícolas ou com áreas de uso problemático terão dificuldade em certificar; custo adicional elevado; possível exclusão de mercados premium.Maior aversão ao risco; exigência de garantias mais altas ou taxas de juros maiores para produtores com perfil ambiental incerto.Possíveis recusas de lotes; necessidade de processos de auditoria mais rigorosos; risco de multas ou embargos por norma externa (ex: UE).
      Pessimista (novas suspensões ou reformas regulatórias desfavoráveis / pressão de setores que contestam o acordo)Fragmentação do pacto; cada empresa terá que definir seus próprios critérios; quebra de uniformidade, aumento de risco de litigiosidade.Produtores mais vulneráveis poderão perder acesso a mercados, crédito; risco de desvalorização de propriedades onde haja incerteza sobre regularização ambiental.Crescimento de perdas, inadimplência ou litígios; descrédito em garantias ambientais; necessidade de provisões maiores ou taxas mais elevadas.Acesso aos mercados externos pode ficar condicionado; risco diplomático ou comercial; pressão por exigências cada vez mais rígidas; possibilidade de penalizações comerciais ou tarifas.

      Implicações da Moratória da Soja para análise de crédito

      Para quem analisa crédito, os próximos meses demandarão:

      1. Revisar modelos de risco para incorporar o risco ambiental/regulatório como variável significativa. Produção em áreas limítrofes da legalidade ambiental, pendências de licenciamento ou documentação, histórico de embargo ou multas ambientais, rastreabilidade devem pesar mais.
      2. Due diligence socioambiental como parte padrão do processo de concessão de crédito rural ou financiamento agroindustrial. Exigir documentos de origem da terra, mapas georreferenciados, relatórios de desmatamento recente, uso da terra etc.
      3. Estratificação de produtores: definir perfis de risco mais claros entre quem já está adaptado (certificação, rastreabilidade, produção em áreas consolidadas) e quem está em risco. Isso permitirá calibrar taxas de juros, prazos, exigências de garantias, seguro ambiental.
      4. Considerar cláusulas contratuais condicionantes de compliance ambiental, inclusive cláusulas resolutivas ou de penalização em contratos de financiamento caso se comprove descumprimento ambiental ou origem da soja que viole a moratória restaurada.
      5. Monitoramento contínuo: acompanhar decisões judiciais, movimentações do CADE, eventuais alterações legislativas ou iniciativas estaduais, bem como políticas internacionais/comerciais (União Europeia, mercados asiáticos), que podem alterar exigências ou impor barreiras ambientais ou sanitárias.

      Efeitos da Moratória da Soja sobre crédito rural, seguro, financiamentos agrícolas

      • Linhas de crédito agrícolas vinculadas ao governo: poderão ter exigências mais rígidas ou novos editais que incluam cláusulas ESG explícitas; produtores que não atenderem poderão ficar fora de benefícios.
      • Seguro agrícola: seguradoras irão demandar comprovação de regularidade ambiental como parte da avaliação de risco. Em casos de descumprimento, possibilidade de negação de cobertura ou aumento de premiação.
      • Financiamento de infraestrutura associada (armazenagem, transporte, escoamento): intervenções logísticas que permitam segregação logística de soja conforme origem ambiental podem tornar-se requisito para contratos ou financiamentos públicos ou privados.

      Impacto da Moratória da Soja para mercados internacionais, exportações e políticas externas

      • A moratória é um elemento-chave de credibilidade ambiental do Brasil. Sua restauração ajuda a minimizar eventuais sanções, boicotes ou barreiras não‑tarifárias por parte da União Europeia e outros compradores que exigem produções livres de desmatamento.
      • Entretanto, a instabilidade jurídica/regulatória pode gerar desconfiança internacional, levando importadores a exigir cláusulas mais rigorosas nos contratos, auditorias independentes ou até preferir fornecedores alternativos com garantias mais seguras.
      • O acordo UE‑Mercosul, bem como outros tratados ou negociações comerciais, poderão incorporar exigências mais rígidas de origem ambiental; a moratória atua como instrumento voluntário que demonstra compromisso, mas sua eficácia percebida dependerá de continuidade, confiança e transparência.

      O que esperar para final de 2025

      Com base nos elementos acima, seguem previsões e orientações práticas para os próximos meses:

      • Haverá aumento de exigências documentais em contratos de crédito rural, exportação e compra de soja. Quem ainda não tem os sistemas de rastreabilidade ou documentação ambiental em ordem poderá enfrentar entraves.
      • Produtores em regiões já consolidadas e com histórico regular terão vantagem competitiva, poderão capturar prêmios de preço ou melhor acesso a crédito.
      • Poderá haver pressão sobre preços pagos ao produtor, especialmente para soja certificada ou de origem garantida, refletindo os custos de conformidade.
      • Exportadores podem antecipar exigências de mercado externo, investindo em auditorias privadas ou certificações como RTRS (Round Table on Responsible Soy) ou similares, para garantir aceitação de seus lotes.
      • Instituições financeiras e seguradoras vão revisar suas políticas internas, possivelmente criando ou reforçando produtos específicos de crédito “Verde” ou “carbon footprint reduzido”, ou ajustando spreads conforme o risco ambiental.
      • Políticas públicas podem emergir para dar suporte (incentivos fiscais, subsídios ou programas de apoio) para produtores adaptarem suas operações, especialmente pequenos e médios, para cumprir exigências de moratória ou protocolos equivalentes.

      Repercussão no crédito: stress test para carteiras agr

      Para instituições financeiras que mantêm carteiras significativas no agronegócio, será importante realizar stress tests ambientais/regulatórios, considerando cenários tais como:

      • redução de demanda internacional por soja genérica sem certificação ou origem duvidosa;
      • embargos comerciais ou custos de não conformidade elevados;
      • aumento de inadimplência entre produtores que não consigam se adaptar às exigências;
      • depreciação de garantias ou ativos rurais cuja situação ambiental seja irregular ou litigiosa;
      • custo de compliance mais alto do que estimado;

      Esses stress tests ajudam a precificar o risco, decidir limites de exposição estadual, ajustar margens de crédito e definir políticas de cobertura ou seguro.

      Recomendações práticas para quem trabalha com crédito ou empresas do setor

      Aqui vão sugestões práticas para mitigar riscos e aproveitar oportunidades no encerramento do ano.

      1. Mapear exposição: identificar dentro das carteiras de crédito agrícola ou de trading, quais clientes/produtores operam em regiões de risco ambiental ou cuja produção possa ser questionada quanto à origem.
      2. Exigir documentação padrão: relatórios satelitais recentes, licenças ambientais, georreferenciamento, histórico claro de uso da terra.
      3. Incentivar certificações: apoiar ou exigir certificações ambientais ou de origem da produção; isto pode ser crédito subsidiado ou linhas especiais para produtores certificados.
      4. Incorporar cláusulas contratuais de compliance ambiental nos contratos de financiamento, de fornecimento e de compra, com penalidades ou exigências de correção em prazos claros.
      5. Monitoramento constante da regulação: seguir decisões do CADE, ações judiciais, iniciativas legislativas, políticas estaduais. Também acompanhar exigências externas – comerciais ou normativas – que venham de mercados de exportação.
      6. Comunicação transparente: empresas que já cumprem os critérios devem demonstrar isso publicamente, reforçar práticas ESG, rastreabilidade, para ganhar confiança de mercados, investidores, credores.
      7. Apoio institucional/político: no nível estadual, federal, buscar políticas de apoio para adaptação (quebras de yield, investimento em tecnologia, assistência técnica, programas de financiamento para adaptação ambiental).

      Conclusão

      A restauração da Moratória da Soja marca o início de um período de ajuste para o setor. Não se trata apenas de um tema ambiental: atinge diretamente finanças, crédito, seguro, conformidade, exportações e reputação do Brasil no agronegócio global.

      Conte com a CBRdoc para simplificar as operações da sua empresa:

      • incorporar os fatores ambientais/regulatórios como parte integrante da análise de crédito;
      • diferenciar perfis de produtores (níveis de conformidade) para ajustar condições;
      • monitorar o cenário regulatório (CADE, Judiciário, leis estaduais ou federais) para reagir rápido;
      • avaliar o uso da moratória como elemento de mitigação de risco reputacional, mas não como garantia de estabilidade absoluta – pois incertezas existem.

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